No plano teórico, o FC Porto foi, a meu ver, o candidato ao título que protagonizou o melhor mercado neste verão. André Villas-Boas afirmou que poderíamos estar na presença do “maior mercado da história” dos azuis e brancos e tinha razão: na última janela de transferências, o clube investiu como nunca, desembolsando qualquer coisa como 94,35 milhões de euros em reforços.
Mais do que isso, contudo, importa realçar a qualidade dos futebolistas que chegaram ao Dragão no defeso, aliada ao contexto em que estão inseridos. Por outras palavras, não só foram contratados jogadores de qualidade, como estes foram escolhidos com critério tendo em consideração as ideias de Francesco Farioli e as lacunas que o plantel apresentava antes da abertura do mercado.
O FC Porto esteve bastante ativo nesta janela de transferências e foi pragmático na hora de contratar: se queria um determinado jogador, não perdia muito tempo a avançar para a sua contratação e a chegar a acordo com o seu clube. Nada de grandes novelas nem perdas de tempo – os dragões tinham bem identificados os seus alvos e fizeram tudo o que podiam para os assegurar, evitando processos demasiado morosos e antecipando-se à concorrência.
Em suma, o mercado do FC Porto foi, em tudo, diferente daquele que realizou o Sporting.
Em Alvalade, a forma como se olhou para o reforço do plantel foi completamente distinta: os leões tinham lacunas evidentes por resolver, mas, mesmo assim, só começaram a contratar novos jogadores – com exceção de Kochorashvili e Alisson Santos, que já tinham sido anunciados em março – depois de oficializar a saída de Gyökeres. Uma abordagem difícil de entender num clube que tem feito bastante dinheiro com a venda de futebolistas e que tem apresentado resultados financeiros positivos.
Essencialmente, o Sporting não se precaveu para possíveis saídas e arrastou por demasiado tempo alguns dossiês, sem que aparentemente tivesse tirado vantagens dessa forma atuar. Por exemplo, Luis Suárez e Fotis Ioannidis assinaram após semanas de negociações e acabaram por ser contratados pelos valores que os clubes vendedores, neste caso Almería e Panathinaikos, sempre exigiram.
O caso do avançado grego causa particular estranheza pelo facto de o jogador ter chegado a Alvalade por mais de 20 milhões de euros, tal como o seu antigo clube sempre quis, inclusive quando os leões demonstraram interesse no ano passado, mesmo depois de, em 2024/25, ter realizado uma temporada muitos furos abaixo da época anterior.
Pior do que isso, foram perdidos alvos de mercado, seja por estes terem sido transferidos para outras equipas, ou por terem permanecido naquelas em que já estavam, e ficou em falta o reforço de pelo menos uma posição: a de extremo. E o próprio Sporting sabe disso, não tivesse tentado até à última contratar Jota Silva, numa transferência que acabou por não se concretizar devido ao atraso na inscrição do jogador na Liga.
Uma situação absolutamente surreal para uma estrutura profissional de futebol que teve literalmente meses para estudar alternativas e negociar um extremo para contratar neste verão, em vez de tentar, no desespero típico do último dia do mercado, fechar um jogador que foi associado ao clube durante todo o verão.
Nota ainda para o Benfica, que voltou a ser o clube que mais dinheiro desembolsou no reforço do plantel – foram mais de 100 milhões de euros investidos em novos futebolistas – e que deu ao seu treinador, tanto quanto se sabe, os jogadores que este pretendia para atacar a nova temporada. Ou, pelo menos, contratou atletas para as posições em que Bruno Lage precisava de reforços, dando-lhe condições para implementar a sua identidade e jogar como idealiza.