Râguebi: Pedro Ferreira estreia-se pelos Lobos. E a camisola será dele

Por vezes, ficamos à espera dos planos que a vida nos reserva, outras vezes, traçamos um plano de vida e contrariamos a famosa citação oralmente atribuída a Agostinho da Silva.

Pedro Ferreira, decidiu contrariar o pensamento atribuído ao filósofo e pensador português e desenhou, em surdina, um caminho para a sua vida desportiva.

“É, para todos os jogadores da modalidade (râguebi), um sonho que se vai tornar realidade este sábado”, referiu.

O segunda linha do GD Direito está no XV inicial da seleção portuguesa de râguebi que defronta, pela primeira vez, a Irlanda (3.ª do ranking mundial), no Estádio Nacional (dia 12, às 19h00, transmissão RTP2), encontro (test match) da janela internacional de verão.

O caminho até aqui chegar pode surpreender muitos dos adeptos da bola oval, mas era algo construído e desenvolvido no íntimo do jogador.

“É um sonho que tem sido parte de um processo meu já há algum tempo”, desejo alimentado “em segredo”, admitiu em conversa com a SPORTINFORMA.

“Fiz parte das camadas jovens na seleção e, desde cedo, tinha como grande objetivo integrar a primeira equipa e fazer a minha primeira internacionalização”, apontou no final do Captain’s Run, treino realizado na tarde de sexta-feira no relvado do Estádio Nacional, no Jamor, Oeiras.

Mudança de chip numa passagem pelos Países Baixos

Recua na história e explica como aqui chegou. “Tive um percurso um bocadinho diferente que, se calhar, teve mais ziguezagues”, confessou o atleta de 27 anos.

“Não tive sempre a 200% dedicado”, reconheceu. “Mas é um percurso que diz muito sobre esse acreditar que é possível concretizar-se o sonho”, referiu.

Para o novo Lobo, a “grande diferença” surgiu “numa altura específica” da vida em que “mudei o chip de não fazer isto porque é o desporto que pratico desde sempre, mas sim pelo gosto e ter um objetivo grande à minha frente”, frisou.

“Joguei um ano na Holanda, mudou um bocadinho o meu mindset de aprender a gostar e desfrutar do desporto em si. Quando voltei, há dois anos, quis aplicar um bocadinho isso, focado no tal plano de chegar à seleção”, recordou.

“Infelizmente, na primeira época de volta, lesionei-me em novembro e estive lesionado até março”, reviveu. O fim, esse, permaneceu vivo. “No segundo ano, tinha esse objetivo, fazer a minha primeira internacionalização”, confidenciou.

“Tudo passa, e tudo passou, por definir um plano a longo prazo e ir tentando aceitar que o plano não é sempre bonito, não é sempre linear, é feito de altos e baixos, mas que se vai fazendo e que se faz dia a dia”, concretizou o pensamento.

“A definição de um plano, foi, sem dúvida, a diferença que me permitiu estar aqui hoje”, disse. “Amanhã (sábado), vai ser mais um dia desse caminho”, avançou.

“Neste momento, o objetivo era chegar à Seleção Nacional e jogar pela Seleção Nacional é o topo do râguebi em Portugal”, reconheceu.

“Vou jogar contra a terceira melhor seleção do mundo. Mais acima do que isto é complicado”, aclamou. “Manter-me na seleção seria já um primeiro objetivo muito grande”, asseverou. Mas o objetivo não fica aqui. “A partir são dois anos até ao Mundial. É um ponto de partida”, definiu Pedro Ferreira.

“Foi tudo um bocadinho a correr”

Têm sido dias e semanas felizes na vida de Pedro Ferreira. Partilhou as mais recentes (boas) memórias com A SPORTINFORMA e como o sonho viu a luz do dia.

Recebeu um telefonema do “preparador físico (Andi), Kyriacou a dizer que o Simon (selecionador) tinha gostado da minha época”, relembrou.

“Foi tudo um bocadinho a correr. Numa semana estava a jogar o último jogo contra o São Miguel (6 de junho), na semana a seguir ligaram-me e duas semanas depois estava a treinar com os Lions (seleção composta por jogadores da Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales)”, desenhou a cronologia do sonho. “Foi uma mudança de realidade grande e rápida”, disparou.

Do treino com os Lions leva um “reality check (teste à realidade)”, diz. “É perceber que, realmente, jogam numa intensidade e velocidade completamente diferente, mas são humanos como nós, também erram (sorrisos)”, realizou.

“Era isso exatamente o que estava a procurar: um desafio diferente. E pôr-me à prova também. Acredito que estando em desconforto, uma pessoa evolui bastante. E foi um bocadinho isso”, admitiu.

“A camisola é minha”

A estreia com a camisola dos Lobos não lhe tira o sono. “Estou bastante tranquilo, preparado e muito confiante naquilo que tem sido o meu percurso”, certificou.

Deixa a receita para a partida com a Irlanda, nação que se apresenta em Portugal privada de duas mãos cheias de jogadores que estão ao serviço dos Lions na digressão pela Austrália. “Tentar controlar aquilo que posso fazer, um bom jogo e desfrutar ao máximo daquilo que vai ser a realização do meu sonho”, perspetivou.

“Provavelmente, vai ser uma noite um bocadinho agitada, mas será um despertar ainda melhor. A minha vontade é que chegue as sete da tarde de sábado (hora do início do jogo Portugal-Irlanda)”, rematou.

A camisola de jogo, essa, terá um destino. “Essa camisola é minha. Não há ninguém que vá ficar com ela”, disparou, a sorrir.

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